Rio+20, juventudes presentes e atentas.
Um breve relato sobre
algumas das participações dos jovens no processo da Conferência da ONU sobre
Desenvolvimento Sustentável.
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Por Luciano Frontelle[1]
Durante
o mês de junho aconteceu a Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável,
Rio+20, na cidade do rio de Janeiro, evento que foi antecedido por uma série de
reuniões e encontros paralelos e em todos eles, lá estava a juventude
acompanhando de perto as discussões. Isso só foi possível porque há 20 anos,
quando a Rio 92 culminou em um documento chamado Agenda 21, ficou decidido que
a Sociedade Civil deveria tomar parte na responsabilidade também, por meio dos
Grupos de Interesse (Major Groups, em inglês), são 9 ao todo e, entre eles,
está o de Crianças e Jovens.
O grupo de interesse de crianças e jovens é o espaço oficial para a voz das juventudes do mundo durante as negociações sobre desenvolvimento sustentável e, por causa disso, seus participantes reuniram-se nos últimos dois anos para definir de forma coletiva quais seriam os Pontos de Articulação (Lobby Points, podem ser encontrados aqui, em inglês) das Juventudes para aquele que seria o documento final da Conferência que aconteceu no Rio.
Além de definir quais seriam os pontos principais de defesa da juventude, também foram feitos guias de participação, como o feito pela Rio+20ies e traduzido para o português pela #ChangeMob, com isso jovens do mundo todo tiveram acesso a estratégias e informações sobre como contribuir, estando ou não no Rio de Janeiro.
Conferência de Jovens
para a Rio+20
Logo
no inicio do mês de junho, de 7 a 12, ocorreu a Youth Blast – Conferência de
Jovesn para a Rio+20, totalmente organizada de forma voluntária por jovens de
vários lugares do mundo. Pelo fato do Brasil não ter organizado antes um
momento específico de debate com sua juventude a respeito dos temas da Rio+20,
foram dedicados dias específicos para brasileiros, 7 e 8, para que assim a
Secretaria de Juventude, co-realizadora do evento, tivesse um documento
base para pautar a
política do desenvolvimento sustentável no país a partir do olhar dos jovens.
De 9 a 12 os participantes de todo o mundo chegaram, foram mais de 100 países representados entre os 2000 que passaram pela Youth Blast. Esse foi o momento de articulações que há muito tempo estavam sendo feitas a distância fosse realizadas presencialmente, também foi a hora da troca entre os jovens, uns aprendendo com os outros durante as atividades autogestionadas.
A programação em todos os dias contava com painéis e sessões nas quais autoridades compartilhavam suas visões sobre desenvolvimento sustentável e debatiam sobre os assuntos relacionamos a questões locais e internacionais, entre eles, Gilberto de Carvalho, Ministro da Secretaria-Geral da Presidencia da República, e Julio Bitelli, Ministro Itamaraty, Marina Silva, Ex-Ministra do Meio Ambiente e Severn Suziki (via skype), ativista canadense conhecida principalmente pelo discurso que fez durante a Rio 92.
Por
ter sido o primeiro evento relacionado a Rio+20 a acontecer na cidade, a
conferência recebeu muita atenção da mídia e contou ainda com a visita de
autoridades de alto nível do sistema ONU, como a de Sha Zukang,
Secretário-Geral da Rio+20 e Achim Steiner, Diretor Executivo do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA).
Cobertura Jovem
Colaborativa
Um
grande diferencial dessa conferência foi a sua cobertura, feita
majoritariamente por jovens de organizações de mídia livre, que trouxeram
informações quase que instantaneamente para os presentes e para os que
acompanhavam pelas mídias sócias. Uma campanha foi criada “Juventudes na
Rio+20”, por meio do facebook, twitter, flickr e youtube, foi possível
interagir com os debates e receber as informações mais recentes sobre o que
acontecia no Rio.
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Jovens de todos os lugares
trabalharam quase sem parar durante a cobertura.
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Na internet a interação foi intensa, tanto que por duas vezes o evento marcou presença nos tópicos mais comentados do twitter, com #JuventudesRio20 e #YouthBlastBrasil, ambas as vezes as palavras chegaram ao 1º lugar no Brasil e 3º no mundo.
Foi
na Youth Blast que também começou o trabalho da Agência Jovem Internacional de
Notícias, trabalho coordenado pela Revista Viração e a Rede Nacional de Jovens
Comunicadores. Textos, fotos, vídeos e programas de rádio foram postados no
site da agência. Cerca de 100 jovens de vários
lugares do mundo participaram da cobertura que durou até o fim da Rio+20, no
dia 22 de junho, acompanhando a Cúpula dos Povos, os eventos paralelos e a
Conferência Oficial com os membros de estado.
As Negociações
Assim
que a Youth Blast acabou, outro capítulo começou para os jovens no Rio,
acompanhar a 3ª PrepCon. Durante a Conferência Preparatória, foram feitos
acompanhamentos das posições dos países com relação as alterações no Documento
Final e também lobby com os delegados oficiais para incluírem os pontos de
articulação do Grupo de Interesse de Jovens e Crianças no texto.
Essa
não foi uma tarefa fácil e infelizmente houve mais retrocesso do que avanço. O
governo brasileiro, responsável pelas negociações, resolveu retirar do
documento os pontos que eram considerados “polêmicos” com a intenção de chegar
de forma mais fácil, quase sem esforço, a um consenso entre os países. Nessa
lista de itens retirados estava o Alto Comissionado para as Futuras Gerações,
posição de representação que traria a visão dos jovens para as assembleias e
negociações oficiais.
Vendo
isso, houve uma grande mobilização e o manifesto “saveoursay – salvenossavoz”
foi criado. E mesmo tendo chegado aos líderes do governo, o item continuou fora
do texto.
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“Lembra de mim? Eu sou o
alto comissionário para as futuras gerações. Me ponha de volta!”, intervenção
durante as negociações no Rio Centro.
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A partir desse ponto a sociedade civil já não via muito sentido por que permanecer dentro do espaço oficial, já que a voz e os desejos que foram expostos das mais variadas formas possíveis não foram contemplados. Esse sentimento acabou culminando em uma assembleia da sociedade civil dentro do Rio Centro, na qual as pessoas, em sua maioria, abandonaram as negociações, tendo antes declarado seu descontentamento e rasgado o texto final enquanto gritava “O Futuro que Queremos não está Aqui!”.
A Declaração Final
Tendo
em vista o fracasso dos governantes em construir um documento que refletisse o
“Futuro que Queremos”, o Grupo de Interesse de Crianças e Jovens escreveu uma
declaração final relatando o que pensava sobre a conferência e como seria sua
atuação a partir daquele momento.
Infelizmente
não houve espaço dentro da plenária de encerramento para a declaração ser lida,
mas dentro de um evento paralelo os jovens conseguiram expô-la, por lá estavam
representantes de todos os outros grupos de interesse. A mensagem foi tão bem
recebida que todos concordaram que aquela seria a mensagem final de toda a
sociedade civil que se fez presente com relação ao evento e o seu processo.
Fica
bem claro na mensagem o descontentamento e, principalmente, a força da
juventude que toma para si a responsabilidade de fazer as mudanças que deseja.
Tanto que desde que a Rio+20 acabou várias ações já foram feitas, especialmente
em datas estratégicas, como o dia da ação global, 14 de julho, e no dia
internacional da juventude, 12 de agosto.
2015
A
próxima data para estabelecer as metas é a de 2015, quando os governantes se
reunirão mais uma vez para estabelecer seus objetivos e métricas com relação as
questões do clima. A juventude já está atenta a isso e existe um movimento
intitulado “Além de 2015” (beyond 2015, em inglês) que por enquanto está mais
forte nos países da Europa e Estados Unidos.
Se
quisermos que dessa vez o resultado seja diferente, temos que assumir a frente
desde agora, nos articulando e fortalecendo nossas posições, não apenas com
palavras, mas principalmente com ações.
Para
ter acesso a um ótimo resumo dos olhares da juventude no contexto da Rio+20,
recomendo esse link. E para mais informações sobre o Grupo de Interesse de
crianças e jovens, basta acessar http://uncsdchildrenyouth.org
[1]
Estudante de Administração, 22 anos. Foi ponto focal em mídias sociais durante
a Youth Blast – Conferência de Jovens para a Rio+20 e delegado da Sociedade
Civil durante a Conferência de Alto Nível. Membro do Grupo de Interesse de
Crianças e Jovens (MGCY), diretor de Oficinas na ONG Lunos de
Educomunicação e Hub da Plataforma
Cidade Democrática.
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